CAPÍTULO VINTE E
TRÊS
O GUIA
LOPES E A RETIRADA DA LAGUNA
Você
sabe por que do nome Retirada da Laguna?[1]
Por
que Laguna?
Por
que Guia Lopes?
Origem
do nome Lopes?
E
o José Francisco Lopes?
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a)
Laguna - Nome da Fazenda de Propriedade de
Francisco Solano Lopez, então Presidente
da República do Paraguai, propriedade onde se criava gado bovino, aproximadamente nove léguas, além de Bela
Vista, para o sul, dentro do território
paraguaio. Laguna, região que
apresenta formação de diversos pequenos lagos, formados principalmente por
ocasião das chuvas.
[1] Ver as duas ilustrações no capítulo 22, Cartografia,
os mapas invasão paraguaia e o das tropas
brasileiras.
(Hacienda Laguna) texto/imagem http://www.retiradalaguna.hpg.ig.com.br/
por onde passou a Coluna. (. . .) Um platô que
domina vasta extensão da região, convidava o Coronel aí acampar, mas, esta vez
ainda, os refugiados fizeram prevalecer suas opiniões que consistiam em seguir
sem retardo, até o centro da fazenda, onde o gado podia mais facilmente ser
dominado e cercado. Em consequência, a continuação da marcha foi resolvida e
seguiu-se, mas sem que resultasse em nada do que se prometera. Acampa-se à meia
légua de lá, (. . .) (La Retraite de la
Laguna). Figura 01.
brasileiras em operação no sul da
Província de Mato Grosso, em 1867, sob o Comando do Coronel Carlos Moraes
Camisão, que depois de terem forçado o recuo das tropas paraguaias estacionadas
nas regiões de Coxim, Miranda, Nioaque, para além do Rio Apa e avançado
território paraguaio adentro, por falta de condições diversas, entre outras,
operações de guerra, cavalos,
armamentos, alimentos, e a própria
reação dos paraguaios, retiraram-se em direção a Nioaque, a base de operações
da Guerra.
Retirada
das Tropas brasileira da Fazenda Laguna-Paraguai “ tropas brasileiras, (travessia de Miranda á
fazenda Bom Jardim MT). A fazenda do Sr.
José Francisco Lopes após marcha recontinua a
Nioaque. Desenho extraído da capa de caderno escolar da administração do
prefeito José Rosalvo Fraga dos Santos. – Figura 03.
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c)
Guia Lopes - José Francisco Lopes, conhecedor
e morador da região, proprietário da então fazenda Jardim (hoje
proprietário o senhor Joelcio de Souza Padilha,da antiga sede rodovia
caminho Guia Lopes da laguna - Bonito),
serviu como Guia ou Prático, acompanhando as forças em operação no sul da província de
Mato Grosso até a região da Fazenda Laguna e de lá o seu retorno até próximo o local do atual Cemitério dos Heróis da Retirada da
Laguna, na cidade de Jardim. Entre os
expedicionários civis e militares
chamavam-lhe pelo sobrenome, Lopes, Nome de Guerra - daí originando o nome de Guia Lopes.
Laguna - A sua ereção a Distrito de
Paz, na organização judiciária de Mato Grosso, foi efetivada pela Lei Estadual
número 140 de 30 de setembro de 1948, com o
nome de Guia Lopes da Laguna, figurando, como tal, na divisão
territorial vigorante no quinquênio de 1949-1953. A partir desta data foi acrescentado o nome Laguna, para evitar
confusões, tinha em Aquidauana uma estação de trem que se chamava Guia Lopes e
outra cidade em Minas Gerais que também
chamava Guia Lopes.
A Força Expedicionária no Sul de Mato Grosso
Depois de quase dois anos, a nossa região que se encontrava sob o
domínio paraguaio, em abril de 1865, com a finalidade de socorrer as tropas
estacionadas em Mato Grosso, Cuiabá e Santana do Paranaíba, partiu de Santos,
São Paulo uma expedição de 600 homens, acrescida principalmente de voluntários do Rio de
Janeiro, São Paulo, Goiás, Paraná, Minas Gerais
para ocuparem posição em Nioaque no dia 24 de Janeiro de 1867, daí os
dois anos
A um documento inédito[1] do
Guia Lopes falando da sua situação na data de 15 de fevereiro de 1867, cujo
teor é o seguinte:
“conforme
as ordens recebidas sahi do acampamento de Nioac a 30 de janeiro dirigi-me a
Colônia de Miranda em exploração dos pontos e lugares occupados (-) pelos Paraguayos.
Tenho a honra de participar a .Sra. que
encontrei vestígios de uma ronda de dez homens a Cavallo e reconheci que haviam
parado e feito pouso naquella Colonia.
Do lado do Apa notei fumaça de fogo nos campos e no Desbarrancado a sete
Légua daqui verifiquei que antes das chuvas que cahiram no fim do mes próximo
passado, ahi esteve uma partida inimiga.
Communico também a V. Sra. Que vários objecto fora por
mim encontrados numa ronda em agosto, havirão desapparecido; o que me fes
suppor que os paraguayos os tinham transportados allem do Apa.
Apresento
a V.Sra. os meus sentimentos de respeito e alta consideração.”
“25
de Fevereiro de 1867 havíamos saídos de Nioac.”
“A 26 estávamos no Canindé.
E
a 27 estávamos no Desbarrancado (Município atual de Guia Lopes da
Laguna), onde debandara nos últimos dias de 1864, o Corpo de Cavalaria do Tenente
Coronel Dias. Demoramos ali dois dias, 28 de fevereiro e 1º de março.
No dia 2 de março chegamos ao rio
Feio (Município atual de Guia Lopes da Laguna).
E no dia 3 de março, ocupávamos o
local onde existira a Colônia de Miranda, 12 léguas ao Sudoeste de Nioac”.
Em 17 de abril de 1867, a Coluna
da Força Expedicionária em
Operação no Sul da Província de Mato
Grosso, comandada pelo Coronel Carlos Moraes Camisão, chegava à fronteira do
Império do Brasil, de D. Pedro II, com a
República do Paraguai, de Francisco Solano López, alcançando a “Bella Vista”
(Paraguai) no dia 20.
A Busca de gado nos
campos da Fazenda Laguna no Paraguai
“No dia 21 de abril, entraram as
forças brazileiras sob o comando do Coronel Camisão no Forte Paraguayo de Bella
Vista, que foi desamparado pela sua guarnição á vista de nossas bandeiras”.
A Busca de Gado na Fazenda Laguna
”Desde o dia da occupação,
começando-se a fazer sentir a falta de gado, mandava a prudencia que fosse
effectuada uma prompta retirada sobre Nioac que era a nossa base de operações
que algum tanto inconsideravelmente fôra deixada, apenas protegida por uma
pequena guarnição, visto como mesmo a diminuta porção de 1500 a 1600 soldados, não
permittia distrahir muitas praças por occasião de avançar contra o inimigo”.
“O inimigo que
occultava a sua força, retirou-se como sempre, deixando-nos a estrada franca
até a Invernada da Laguna, onde
acampamos, a 8 ½ leguas do rio Apa, na esperança de obter
algum gado. Varias vezes foram os
nossos batalhões proteger aos campeiros, sendo sempre incomodados por partidas
de cavallaria, as quaes sem fazerem frente a nossos soldados, impediam, comtudo,
totalmente a execução do que pretendíamos”.
“Foi, pois, pouco desvanecendo-se a esperança que nutria
o Commandante das forças, a qual, depois de resolver levantar acampamento quis,
contudo, por uma surpreza audaz, ir bater o inimigo, acampado a mais de legua e
cujo numero era ainda desconhecido.
Encarregados desta honrosa missão foram o Batalhão n. 21 de Infantaria
que eu tinha a ufania de commandar e o brioso Corpo de Caçadores a Cavallo, que
tem a sua frente o denodado Capitão Pedro José Rufino”.
A Retirada da
Laguna
“No dia 8 de maio ás 7 horas da
manhã começou a força a mover-se,
sendo logo tiroteiada fortemente por
infantes, emboscados em uma mattinha, os quaes, porem cederam á bizarria do Corpo de
Caçadores a Cavallo que d’ella os expelliu, apezar das de Cavallaria que o obrigaram
a formar circulos parciaes até a chegada de uma grande Divisão do Batalhão n.
20 que com uma bocca de fogo correu em seu auxilio”.
De regresso ao solo
brasileiro
“O dia 10 foi de
descanso, effectuando-se a 11 pela manhã a passagem do Apa, com a qual gastou a
força mais de 4 horas pela quantidade de animaes e carros que passaram de uma
margem a outra. As 9 horas começou na
ordem adoptada anteriormente, caminhando-se perto de tres quarto de leguas sem
avistarem-se inimigos”.
A mudança de Direção
A mudança de
direção - ao invés da estrada que ligava à Colônia
Militar de Miranda, procurou o caminho na direção da Fazenda Jardim de José
Francisco Lopes.
”Esse facto importantissimo,
influiu poderosamente para que o Coronel Camisão tomasse então uma resolução
que veio para o futuro crear novos e terriveis obstaculos a facil retirada das
forças.
Tomaram, pois, as forças nova
direcção, abrindo os pés de nossos soldados, uma estrada por terrenos nunca
d’antes trilhados.
No dia 13 de maio6 cahiu
uma chuva torrencial que impossibilitou a marcha, tornando os terrenos que
deviamos atravessar, quasi intransitaveis e fazendo sofrer a nossa soldadesca
extremamente pela falta de fardamento.
A 14 recomeçou a marcha que em
breve tornou-se penosissima, pelo estado
dos terrenos e pelo novo meio de guerra que adotarão desde então os
paraguayos para impedir-nos a continuação da viagem: lançavam fogo aos campos,
os quaes reseccados pelo sol ardente de dias de trovoadas ardiam com
intensidade extraordinaria, cercando-nos por todos os lados de calor abrasador
e fumaça asphyxiante. O vento Norte
que soprava constantemente n’este mez,
ainda mais critica tornava a posição da nossa força”.
Cólera-morbo7
“No dia 18 de maio, houve um novo
tiroteio, retirando-se o inimigo, apenas começou a trabalhar a artilharia que elle respeitava extremamente. N’este dia começaram aparecer com mais
frequencia os casos de uma molestia que os dous distinctos facultativos da
força, duvidaram por dias, apesar de seus syntomas irrecusaveis em qualificar,
e que em breve tornou-se um flagello medonho, capaz de causar a desorganisação
dos mais bem constituídos exércitos.
Marchou a força debaixo de chuvas
repedidas durante os dias 21, 22, 23, 24 e 25 de maio, em que chegou ao corrego
Prata, a 3 ½ leguas do Jardim”
“O numero de enfermos era tal que
litteralmente metade da força era empregada em carregal-os, pois que cada piola occupava oito homens em
sua conducção. O descontentamento e a fadiga da soldadesca eram evidentes. Os sãos depois de poucas marchas cahiam exhaustos pelo cansaço aos
golpes da molestia; o estado geral, reclamava uma prompta solução.
O Coronel Camisão,
tomou então uma medida de que dependia a salvação do resto da força, medida
cuja execução foi horrorosa e custou-nos momentos angustiosos e crueis.
A 26 de maio ficaram abandonados
76 moribundos,os quaes apenas moveu-se a força, foram degollados pelos
paraguayos que seguiam-nos sempre em certa distancia”.
Este
lugar, ficou denominado de Cambaracê, fica hoje no município de Jardim.
As Despedidas de
José Francisco Lopes, O GUIA LOPES
Na fazenda Jardim
do José Francisco Lopes
“A causa d’aquella modificação hygienica,
foi a quantidade extrema de limões e laranja que nossa soldadesca encontrou no
pomar da fazenda Jardim, como especifica
a parte dos medicos.
Os dias 30 e 31 de maio e 1º de junho foram todos empregados
na passagem do rio12 que se conservou sempre cheio dando apenas
pessimo e perigoso vão. Com
difficuldades passaram as nossas tropas, as 4 peças e armões havendo sido
queimados os carros
Assim, pois, no dia 1º de junho
achavam-se as forças no lado direito do rio Miranda, com 9 leguas diante de si
em boa estrada para chegar a Nioac. Os
paraguayos haviam effetuado a passagem antes de nós e ja se achavam a nossa
frente”.
A Marcha sobre Nioac
“Deis por isso, ás 6
horas da tarde ordem de marcha ás forças caminhando a noite inteira e chegando
ás 3 horas do dia 2 de junho no Canindé, a 3 leguas de Nioac.
No Canindé14,
achei signais da passagem dos paraguayos.
Carros queimados, existiam no caminho, estando o chão coberto de farinha
e arroz.
A
soldadesca comeu enfim, apanharam tudo o que foi encontrado depois de 22 dias
de cruel fome, durante os quaes a ração de simples carne era tão diminuta que
repartia-se 4 a
8 rezes, em logar das 21 que habitualmente iam para corte!
Do Canindé, segui incontinentemente
para Nioac, encontrando pelo caminho
restos de carros queimados e mantimentos.
A leguas de distancia viram a força as casas de palha do acampamento
ardendo, estando ás duas horas da tarde n’aquelle logar de desolação e tristeza”.
“Os paraguaio que chegaram em Nioac
eram poucos. A Guarnição que havia
ficado para proteger o local e as
coisas, fugiram.
Os paraguaios atearam fogo sobre Nioac
mais uma vez”.
Em Nioac
“Ainda em Nioac, esperava-nos
nova calamidade. No chão do deposito
havia ficado espalhada muita polvora que não poderia ser transportada. Apesar das mais energicas e reiteradas
recommendações, a imprudencia de um soldado provocou uma formidavel explosão
que queimou 13 praças, das quaes 6 faleceram poucos dias depois apesar dos cuidados que fiz observar
na conducção d’elles. Com a retirada
do Capitão Martinho José Ribeiro era impossivel a estadia em Nioac, reduzida
á cinzas”.
Fim da retirada da
Laguna!
“Quartel do Commando
interino das Forças Operadoras no Sul da
Provincia de Matto-Grosso.
Acampamento junto a margem
esquerda do Rio Aquidauana, 16 de junho de 1867.
Major
Thomaz Gonçalves
Major da Comissão, Commandante Interino das Forças”.
[1] Foto arquivo do nono batalhão de
Suprimento, Guia Lopes, Memorial Guia Lopes. C. Grande. Confesso que até este
momento de pesquisa dois documentos nos atestas oficialmente o José Francisco
Lopes: a sua certidão de nascimento e este relatório.
6
Maio de 1867.
7 Cólera doença infecciosa
caracteriza por vômitos, diarreia, cãibras.
É uma moléstia infecciosa aguda, fortemente contagiosa, produzido por um bacilo ligeiramente curvo,
que, pela sua forma, é chamado bacilo vírgula.
Descoberto por Kock em 1883. A cólera começa com náuseas, insônia e
arrepios seguidos de uma diarreia violenta e repetida acompanhada de vômitos e
de vertigens. Alguns dias depois o
doente queixa-se de zunidos nos ouvidos, palpitações no coração, peso no
estômago, expressão de angústia e palidez na face. Os intestinos apresentam-se vazios sem dor,
com descargas semelhantes à água de arroz.
A dor no estômago e sobre o coração é muitas vezes insuportável, cãibras
nas barrigas das pernas e nos braços. A
sede é contínua e violenta. O doente cai
em algidez. Muitas vezes as urinas são
suprimidas. O doente cai numa
sonolência depois em estado comatoso e morre ou pode repentinamente melhorar e então ir para a
convalescença ou cair no coma fatal em poucos dias. (Baseado na Enciclopédia
Didática de Informações e Pesquisa Educacional, vol. 3, 1987. p. 951).
12
Rio Miranda.
14
O Rio Canindé, afluente do Rio Nioaque,
tem a sua nascente nas terras do atual
Município de Guia Lopes da Laguna.
Canhões que
foram utilizados durante a Guerra do Paraguai
Figura 04.
Arquivo do Exército.
Projétil
utilizado em canhão raiado e bomba explosiva. Figura 5 – Arquivo do Exército
FIM
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