BIBLIOGRAFIA
Guia Lopes da Laguna,
Nossa Terra, Nossa Gente, Nossa História, 1858 a 1958. Dalmolin , José Vicente). Campo Grande, MS :
Livraria e Editora ..., 2011.
1. Guia Lopes da
Laguna. 2 , História Regional. 3. Município de Mato Grosso do Sul..
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A saga de Guia Lopes – José Francisco Lopes 28
Além do Visconde de Taunay em a
Retirada da Laguna, a saga de Guia Lopes é narrada pelo General João Pereira de
Oliveira em seu livro Vultos e Fatos de
Nossa História. Em 1965, o Ministério da
Guerra, publicaria o Guia Lopes, baseado na obra do General Pereira de Oliveira, editado pela Imprensa do Exército. É deste que o Alto pinça algumas passagens
que endossam novamente, em tons de heroísmo, a participação de Lopes nessa
célebre passagem da Guerra do Paraguai.
“Mal percebeu que, quase na
totalidade, o paraguaio ocupante de Bela Vista dali se retiravam,
desordenadamente, entrou Lopes a provocá-los com assobios e apóstrofes29 de desprezo, que despertaram o riso em
todos os presentes” (Da ousadia do velho Guia frente ao inimigo)
“Pois nesse momento, precisamente, é
que a obra mirífica30 do velho Guia Lopes
começou a fazer-se ainda maior, ainda mais divina, se assim me é lícito dizer”
(tão logo se decidiu pela retirada da tropa)
“Mas Lopes, que se achava sempre
na vanguarda, mais uma vez salvou a situação: sem que lhe fosse dada ordem (...)
inflectiu31 para a esquerda e, contra-marchando,
subitamente, levou as nossas forças ao pé de um morro, onde, se preciso, se
poderia localizar uma bateria” (Logrando mais uma escaramuça32 paraguaia).
“O velho Lopes não perdeu tempo:
ordenou que o pessoal de que podia dispor, cortasse, a toda pressa, a macega
que circundava o local do estacionamento, que uma vez cortada fosse
imediatamente conduzida para longe, coberta de terra e depois calçada”.
(Livrando a tropa de mais de mais um dos incêndios ateados pelos inimigos).
Por toda a parte, estava ele, então,
grande, sublime, incomparável, estimulando os outros, e lutando como leão indômito33
por apagar aquele mar de chamas, com que o inimigo, desumano e astuto,
procurava aniquilar, de vez aqueles homens sofridos e destemerosos”. (Sobre o desempenho de Lopes à frente da
tropa).
“O nosso guia, que, no combate, era de intrepidez sem igual,
e até terrível, mostrava-se sempre, na hora calma das deliberações, mais que
qualquer outro, o homem dos bons conselhos.
Para ele, pois, é que apelou o chefe da expedição”. (Após combate em que
a tropa perdeu o gado e ficou sem víveres34).
“Naquele dia, o velho Lopes
foi bem maior que muitos heróis que
Homero, em seus poemas épicos, celebrou em estrofes harmoniosas e
imperecíveis”. (Depois de mais uma batalha e outro incêndio debelado35).
“Estava por findar a missão do velho
Lopes. Combalido36,
arcado para frente, com a cabeça sobre o arção37
da sela, seguia ele, sem proferir palavra.
Súbito, saltaram-lhe os estribos, e ele caiu, pesadamente, ao solo”. (Ao
ser contaminado pela Cólera-morbo).
“Hoje, ele tem o nome sobalçado38 pela nossa história e a figura perpetuada no bronze do monumento que se
levanta, solene, na Capital da República, sob as bênçãos desta Pátria”. (Do reconhecimento pelo Exército dos feitos
de Guia Lopes).
Guia Lopes: “nunca mais será
minha a estância do Jardim”39
(O
reencontro de Guia Lopes com o filho que não via há dois anos)
O reencontro de Guia Lopes com seu
filho, após dois anos de cativeiro, foi uma das cenas mais emocionantes
narradas por Visconde de Taunay em a Retirada da Laguna. Na realidade, o filho – cujo nome não é
citado – (Ler o Capítulo VIII desta Obra
para maiores esclarecimentos) e o genro Barbosa foram os únicos
familiares que Lopes voltava a ver desde 1865.
Naquele ano os paraguaios tomaram
de assalto a Fazenda Jardim, promoveram o saque e seqüestraram toda a sua
família. Além do filho e do genro, que conseguiram escapar,
Lopes morreu sem rever a esposa Dona Senhorinha e os demais filhos.
O que conta Taunay
“Deu-se logo o alarme em toda frente
à retaguarda, mas tivemos logo a agradável surpresa do regresso do nosso
destacamento trazendo dez cavaleiros.
Eram brasileiros, eram irmãos! (...).
Um deles, o filho do Guia Lopes,
chamou o Coronel à sua barraca e a sós.
Era moço simpático, cuja inteligência e discrição pareciam provir da
herança paterna (...).
Anunciou-se neste momento a volta do
17º Batalhão que acompanhara o velho Lopes.
Era geral o desejo de assistir ao primeiro encontro do pai e do
primogênito que lhe voltava aos braços.
Passando pelos postos avançados soubera o nosso guia da grande notícia.
Vinha pálido, lacrimejante, em
direção ao filho que, respeitosamente, o esperava descoberto. Não descavalgou; estendeu a destra trêmula ao
filho, que a beijou; depois o velho guia deu-lhe a benção e passou sem proferir
palavra.(...)
Que emoção devia sentir o velho,
vendo o filho escapo ao inimigo! E
quanta dor ao pensar que os outros membros da família, ainda cativos, haviam
perdido o mais valente defensor. Quando
em tal lhe falamos, tomou longa pitada e disse: ‘Deus tudo faz. Deus assim
quis. Fui outrora feliz, tive casa e
família. Hoje durmo ao relento; estou só
e como do que a caridade me dá’.
Vamos encontrar casa em Bela Vista,
lhe respondemos. Tem o senhor a seu lado
filho e genro. Come em companhia de
amigos e até ainda é quem lhes dá a comer de seu gado.
Com um sorriso melancólico, meneou40 a cabeça dizendo: Nunca mais será minha
a estância do Jardim”.
A Violenta sede de vingança41
(Trechos
do Livro a Retirada da Laguna de Visconde de Taunay)
A perdiz voa
“(...) víamos o velho Lopes
apressurado42, montando belo cavalo
baio, um daqueles animais que o filho e os companheiros deste haviam tomado aos
paraguaios.
Estava no auge da alegria, o olhar
como o de um rapineiro, a fitar Bela Vista, que começávamos a avistar. De repente, no momento em que acabávamos de
chegar ao seu lado percebemos que a fisionomia se lhe anuviara43: ‘A perdiz voa do ninho e nada nos quer
deixar, nem os ovos’. Mostrava ao mesmo
tempo tênue fumo que subia aos ares”.
Lopes provoca
“Pelo interior e vizinhança vagavam
ainda paraguaios a pé, retardados pelo pesar da presa que nos abandonavam e a
ira que os levavam a tudo devastar.
Outros, em maior número e a cavalo, retiravam-se desordenadamente.
Pôs-se o nosso guia a provocá-los
com assobios, apóstrofes de desprezo, ante as quais difícil nos foi conter o
riso. Teriam podido volver contra nós
estes robustos cavaleiros e com as suas possantes montarias e pesados sabres
facilmente destroçar nosso pequeno grupo(...).
Mas tal idéia não nos ocorreria e a
Lopes muito menos. Este intrépido velho
quase sempre nos perdera na carreira, a
galope (...), a todo instante redobrava de velocidade, pensando na mulher, duas
vezes agarrada e arrastada prisioneira para o Paraguai (...). Mil recordações de atrocidades antigas e
recentes lhe incutiam violenta sede de vingança”.
Mensagem dos brasileiros
“Aos Paraguaios: Fala-vos a expedição brasileira como a
amigos. Não é seu intuito levar a
destruição, a miséria e as lágrimas ao seu território (...)”
A resposta dos Paraguaios
‘Avança crânio pelado44!
Mal aventurado General que espontaneamente vem procurar o túmulo”.
A tomada da Laguna
“Ao chegarmos vimos um dos nossos
soldados dirigir-se ao nosso encontro trazendo um papel que achara pregado ao
tronco de uma macaubeira (...) Assim dizia:
Malfadado45 o General que aqui vem
procurar o túmulo; o leão do Paraguai, altivo e sanguissedento, rugirá contra
qualquer invasor”.
O que dizia Lopes - (13) - do Livro Retirada da Laguna
_ “Prometeu-me o governo dar-me,
a título de recompensa, trezentos mil réis, mas nunca os pagou. Perdoei-lhe a
dívida”. (Sobre uma ferida incurável que tinha na planta do pé).
_”Nada sei, sou sertanejo, os
senhores que estudaram nos livros, é que sabem”. (Em discussão no acampamento dos soldados).
_”Desafio todos os engenheiros
com as suas agulhas e plantas. Nos campos da Pedra-de-Cal e Margarida sou rei”.
(Sobre o caminho a ser tomado pela tropa em direção a Laguna).
_”Só Deus eu e meu filho podemos
ir de minha Fazenda ao Apa pelo
campo”. (sobre o trajeto entre a Fazenda
Jardim e o rio Apa).
_”O da minha cabeça”. (Sobre o
rumo que seguiria para frustrar uma tocaia dos paraguaios).
_”Bem se vê que os senhores são
novatos nessa terra”. (Aos oficiais e soldados da expedição).
_”Quando alguém, pelo campo
procura caminho nunca deve parar”. (Orientando a retirada da tropa).
_”Saibamos morrer; dirão os
sobreviventes o que fizemos”. (buscando elevar o moral num momento difícil da
epopéia).
_”Deus que tudo determina,
salvou-o várias vezes das mãos dos homens para tomá-lo hoje”. (Sobre a morte do Filho)14
_”Agora que importa? Entreguem à terra o que lhe
pertence”. (Quando lhe disseram que a
terra em que seu filho seria sepultado estava encharcada).
_”Salvei a expedição; o senhor
que o sabe há de dizer”. (Ao tenente
Juvêncio, pouco depois de atacado pela Cólera-morbo).
Fotografia
do Coronel Juvêncio, que também pereceu vitimado pela Cólera-morbo.
_”Reparem neste campo verde escuro;
é o meu retiro. Não chegarei lá. Os
senhores é que em breve estarão em Nioac”.
(Pouco antes de morrer).
“É de Taunay a mais completa
descrição desse piumhiense célebre. Em
seu Livro A Retirada da Laguna chamava-o de o ‘homem das solidões’. Numa visão romântica, o escritor, que como 2º
tenente do 20º Batalhão de Infantaria participou da campanha do Mato Grosso, em
1867, revela que a figura do velho Guia Lopes evocava o personagem “Olho de
Falcão”, da obra de James Finamore
Cooper O Último dos Moicanos.
Gravura
de Alfredo D’Escragnolle Taunay,
o Visconde de Taunay, que entre outras funções foi Oficial Superior do Exército
Brasileiro, Senador do Império, Membro da Academia Brasileira de Letras. Escreveu entre outros livros, a Retirada da
Laguna.
Sobre Lopes escreveria Taunay em
seu livro publicado em 1871: “tivera desde a infância o pendor pelas entradas
nos sertões brutos. Contava-se também
que um ato violento, da primeira mocidade, lhe impusera, durante algum tempo,
esse modo de vida. Viera depois a idade
desenvolver-lhe todas as aptidões. Prodigiosamente sóbrio, viajava dias inteiros
sem beber, trazendo a garupa da cavalgadura pequeno saco de farinha de
mandioca, amarrado ao pelego macio, que lhe forrava o selim. Jamais deixava o machado destinado a cortar
palmito. Nascido na Vila de Piumi (sic)
em Minas Gerais, dali, ao léu das aventuras, havia atingido todos os pontos da
área que se estende das margens do Paraná às do Paraguai. A fundo conhecia as planícies que entestam
com o Apa, divisa do Brasil e do Paraguai. Numerosas localidades até então
virgens do pé humano, até mesmo selvagem, percorrera e a várias batizara (Pedra-de-Cal, entre outras). Tomara em nome do Brasil, posse ele só, de
imensa floresta, no meio da qual plantara
uma cruz, grosseiramente falquejada, onde esculpira a inscrição P II
(Pedro Segundo), imponente madeiro, perdido no recesso dos desertos. Criava a iniciativa do sertanista domínios ao
soberano.
Numa viagem para estudar a
navegação do rio Dourados, afluente do Paraná, gravemente ferida a planta do
pé, acidente que jamais pudera curar-se.
Um dia, como lhe víssemos a chaga, semicicatrizada, sempre a sangrar,
disse-nos: Prometeu-me o governo dar-me
a titulo de recompensa 300 mil réis, mas nunca os pagou. Perdoei-lhe a dívida;
o que se me devia era uma condecoração: já há tenho e nada mais quero.
Durante sete anos com a família,
residira no Paraguai; mas no momento da invasão, já estava ao solo brasileiro,
habitando a margem direita do rio Miranda, uma propriedade sua que batizara Jardim, fertilizada pelo seu trabalho
e o dos filhos já crescidos. Ele e a
mulher Dona Senhorinha, generosamente hospedavam quantos ali fossem ter.
Quando em 1865, irromperam os
paraguaios em território brasileiro, conseguira escapar-lhes, mas único da
família, que caira toda em poder do inimigo e fora transportada para a aldeia
paraguaia de Orcheta, a sete léguas da cidade de Concepcion. Com ela vivia o coração do velho Guia. Por
todas estas razões, nele encontrou o Coronel Camisão apaixonado adepto. Desde que lhe dando a conhecer seus
projetos, acenou a José Francisco Lopes com o ensejo de, como guia da
expedição, ir ter com a família e vingar-lhe os agravos, empolgou o espírito do sertanista
brasileiro, que apesar de todo o ardor; jamais perdeu, contudo a perfeita
intuição das conveniências. Assim, nunca
esquecendo a modéstia da posição freqüentemente dizia: nada sei, sou sertanejo;
os senhores que estudaram nos livros é que sabem.
A
gravura apresenta a Cena da Retirada da Laguna inspirada na obra
imortal de Visconde de Taunay.
Era o orgulho num único ponto irredutível, no que tocava ao
conhecimento do terreno, legítima ambição, além do mais, pois dela nos proveio
a salvação. Desafio exclamava, todos os
engenheiros com suas agulhas (bússola) e plantas. Nos
campos da Pedra-de-Cal e Margarida sou rei.
Só eu e os índios Cadiuéus conhecemos tudo isso. Resolveu-se à partida de Nioac, embora já com
grandes dificuldades tivéssemos que lutar, sobretudo quanto ao abastecimento de
gado”.
13 Jornal
Alto S. Francisco, Edição 3.104 de 6 de maio de 2001. Piumhi, Minas Gerais.
14 O que
dispomos de informação sobre quais dos filhos morreram, temos “Que duro tempo da guerra que além do seu
marido perdeu a peticionaria tres filhos, Antonio, Manoel e Affonso Lopes, que
voluntarios ao serviço da Patria perecerão, o primeiro com viagem para a
Capital do Estado e os outros massacrados em lucta com o inimigo...” (documento
transcrito no Capítulo V)
15 Gravura
pertencente ao Arquivo do Pesquisado e Autor.
16 Jornal
Alto S. Francisco, Edição 3.104 de 6 de maio de 2001. Piumhi, Minas Gerais,
p.7.
17 Gravura
introduzida do Livro, História do Exército Brasileiro, vol 2, 1972
18 Gravura
introduzida do Livro, História do Exército Brasileiro, vol 2, 1972, p.658.
28 Jornal Alto
de São Francisco, edição 3.106, 20 de maio de 2001, página 7 – Piumhi – MG.
29 Apóstrofes,
em Retórica: Procedimento em que o
orador ou escritor se interrompe (nem sempre), para se dirigir a seres reais ou
fictícios. Interpelação brusca e
interjetiva.
30 Mirificar,
causar admiração, espanto.
31 Inflectir,
inflexão, modo pelo qual um corpo está dobrado; inclinação.
32 Escaramuça,
Combate de pequena importância. Peleja
entre alguns corpos de tropas contrárias. Briga, conflito.
33 Indômito,
Indomado. Que não é vencido. Arrogante, altivo, soberbo.
34 Víveres,
gêneros alimentícios; mantimentos.
35 Debelar,
dominar, vencer. Combater, extinguir.
Curar.
36 Combalido,
abatido, abalado. Enfraquecido.
37
Arção, peça de madeira ou de metal,
arqueada e proeminente que faz parte da sela, parte dos instrumentos de
montaria à cavalo.
38 Sobalçar ,
alçar bem alto, aclamar, exaltar, engrandecer.
39 Jornal
Alto de São Francisco, edição 3.106, 20 de maio de 2001, página 7 – Piumhi –
MG.
40 Menear,
manejar, mover de um lado para outro.
Mexer-se, mover-se, oscilar.
Saracotear-se, balançar o corpo em movimentos laterais.
41 Jornal
Alto de São Francisco, edição 3.106, 20 de maio de 2001, página 7 – Piumhi –
MG.
42
Apressurar, apressar, acelerar, aprontar-se com precipitação.
43 Anuviar,
cobrir(-se) de nuvens, nublar(-se); escurecer(-se).
44 Crânio
Pelado, assim como os paraguaios chamavam o Coronel Carlos Morais Camisão.
Boa noite. Gostaria de saber de quem é a autoria da gravura, que está publicada neste blog, que apresenta a Cena da Retirada da Laguna inspirada na obra imortal de Visconde de Taunay
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