Guia Lopes da Laguna
80 anos da Fundação da Cidade
(A última filha caçulinha do município de Nioaque)
19 de Março de 1938 – 19 de março 2018
Parte 2
Na primeira
parte esboçou os preâmbulos para a fundação de um Patrimônio. Tornou-se um ato
oficial, porém ainda sem nenhum marco que pudesse caracterizar um bem imóvel.
A
concretização veio a se dar sobre dois esteios que são pilares institucional de
uma sociedade, a Religião, sob a
construção da Igreja de São José e a Educação
que
concretizou na construção da Escola Visconde de Taunay. Os demais fatos serão decorrentes.
O
Sonho foi de três servidores públicos da Nação Brasileira, os Sargentos: Sargento
Luiz Fioravante, Sargento Odilon de Queiróz, Sargento José Antônio Bulhões. Entretanto a realização deste sonhos, Projeto
de fundação de um Povoado, que se tornaria uma cidade e posterior município,
Guia Lopes da Laguna foi a soma de mãos e recursos de muitas pessoas que
acreditaram no sonho.
Deste
modo, a cidade de Guia Lopes da Laguna através dos seus munícipes devem à
memoria de todos os homens e mulheres, jovens e crianças, civis ou militares
que tornaram possível o 19 de março esta data festiva.
Devemos
nos orgulhar: Não temos um Fundador, mas as mãos e mentes de diversos
Fundadores e cofundadores. Minha
gratidão!
A Igreja de São José
Empreitou-se
a mão-de-obra da construção da igreja, com o paraguaio Liberato Delgado por
600$000 réis, cujo prédio, de 8m x 4m, de taipa, rebocado, caiado por dentro e
por fora, como uma porta à frente, uma do lado direito e uma janela no lado
esquerdo, coberto de telha francesa. O caminhão que transportava as telhas de
Aquidauana permitido Senhor Major
Amaurílio Osório, que estava comandando interinamente o Batalhão.
A
madeira, dada gratuitamente ao pé da obra, pelo fazendeiro Macário Aristimunha.
A primeira imagem de São José
O
Tenente José França, dias depois daquela sua importante oratória de 12 de
fevereiro, foi transferido para o 1o B. E. no Rio de Janeiro. Antes
de partir, porém, doa para o patrimônio a nascer, uma bonita imagem de São
José, a qual medindo 0,75m de altura, adquirida à casa comercial de Luiz
Mengelli, da praça de Aquidauana.
Altar
Para
servirem de altar: 1 pequena mesa e 3
caixotes; 1 andor e 1 mastro para hasteamento a Bandeira Nacional, pelo soldado
carpinteiro Roriz.
A Escola Visconde de Taunay
A
construção do rancho para a escola ao lado da igreja foi empreitado com o sr.
Pedro Rodrigues da Silva, pela quantia de 170$000 réis sendo o seu tamanho de
8m x 4m, cujas paredes, portas e janelas de taquaruçu rachado bem batido e a
coberta de palha de bacuri.
O Poço de água
O
poço foi aberto e construído por dois trabalhadores pago pelo Sr. Basílio
Barbosa, como ajuda a fundação do patrimônio.
A demarcação da Praça, ruas e quadras urbanas
No
dia 14, segunda-feira, iniciou-se os trabalhos. Com uma cruzeta, tendo em cada
ponta um prego de 15x15 para melhor visada, corrente de agrimensor, trena e balizas,
eu, Bulhões, Fioravante e algumas praças disponíveis sem prejuízo de seus
deveres e obrigações, começamos as demarcações de Guia Lopes da Laguna com
medições de quadras, lotes, ruas e praças que, em face dos instrumentos
competentes.
Fotografia
abaixo, escritório do Acampamento da 1ª
Companhia do 3º Sapadores, ano de 1938, situado ao lado direito, após o Posto
Ipiranga Mariely, sentido Guia Lopes da Laguna estrada da Ponte Velha à cidade de Jardim.
O padre Redentorista Paulo Butler e José Francisco
Lopes, o Filho do “Guia Lopes” Em
frente do escritório do Comandante, no Acampamento da Companhia de Sapadores, 1938
Loteamento, venda e escritura
A
procura de compras de lotes relativamente boa, em poucos dias tínhamos vendido
bastante. Tendo assim que, na inauguração da fundação do patrimônio, já havia
construções bem adiantadas, como as dos Monteiros, a do Nenê Barbosa e
outras...
As
escrituras eram passadas pelo tabelião de Nioaque, Sr. Sebastião Medeiros, que a
chamado nosso, vinha para tal.
De
cada lote vendido, cabia ao Sr. José Francisco (Filho do Guia Lopes), o doador
das terras, no mínimo 20$000 réis que na ocasião, sempre estava presente,
porque mandávamos chamá-lo para os devidos fins.
Para
se ter uma ideia, um hectare de terra naquela época, era vendido em torno de 15$000 réis nessa região.
Limpeza da área
Destocamento,
roçada, capina e limpeza de uma área de 100m x 50m, compreendida entre a faixa
da estrada e o local da igreja e escola, por uma turma de 20 soldados, depois
de terminados os seus deveres na Companhia, nos dias 17 e 18 de março, sendo
que, o próprio Sargento Queiroz, deu um murro danado por carregar galeotas e
carrinhos, de tocos, pés de caraguatá, de guavira e cinzas das coivaras que
tocamos fogo, até ao escurecer da véspera, sexta-feira, dia 18, para ficar bem
limpo.
A busca do Padre em Aquidauana para
celebração da missa e benção do Patrimonio Guia Lopes
Foi
o próprio Queiroz, um dos idealizadores e fundadores do Patrimonio que foi
buscar as telhas e a imagem de S. José em Aquidauana, e esteve com os Padres Redentoristas – Norte
Americanos. Com absoluta franqueza os
cientificou de toda a história,
dizendo-lhe por fim, que não podíam pagar-lhes nenhum transporte para a ida de
um padre no dia 19 de março, dia de São José, a fim de celebrar a primeira
missa, proceder à bênção e o batismo de Guia Lopes da Laguna.
No
dia 18 à tarde, uma telefonema de
Nioaque por intermédio do telegrafista Benevides daquela cidade – chefe da
Agência dos Correios e Telégrafos Nacional, dizendo que o Padre Paulo Butler,
norte-americano, chegaria a Fazenda Jardim, às 8 horas da manhã, 19.
Os preparativos para os festejos e a
chegada da vizinhança
Havia
muita gente chegada de fora do povoado nascente.
Várias
carretas eram vistas num ponto e noutro, por baixo das árvores mais copadas
cujos donos, ali mesmo fizeram pouso, porque não havia um lugar onde pudessem
ficar abrigados. De sorte que, ao pé das carretas, o fogo ardia e bom chimarrão
tomava-se; bom churrasco, boa mandioca e farinha, comia-se.
Muita
gente ocupou o pequeno rancho-de-palha da escola outros se arrumaram pela
vizinhança, em casas de parentes e conhecidos, como à do Basílio Barbosa, à do
Irineu Vieira de Sousa, do Macário Aristimunha, do Fábio Martins Barbosa à do
Sr. Francisco José Lopes Filho e outras... O Bolicho do Nenê Barbosa e a loja
dos Monteiros, cujas casas ainda estavam em construção, ficaram apinhados. No
possível, muitos se abrigaram também em ranchos do acampamento da 1a
Companhia.
O
altar da pequena igrejinha foi arumado da melhor forma possível por diversas
Senhoras.
À
igreja e à escola, bem como no respectivo pátio, foram colocados cordões de
bandeirinhas de papel de cores, de vez que, nada mais, como ornamentação, pode
se fazer.
Sábado, 19 de
março de Março de 1938, a Solenidade militar, religiosa e civil
A
Bandeira Brasileira tremula no topo do mastro. O Sol brilha nos primeiros dias
do Outono. O Brasil, Mato Grosso, Nioac, recebem nas benção do Cruzeiro mais
uma pequena estrela, mas que já nasce em primeira grandeza no contexto da História
desde o ano de 1858, quando José Francisco Lopes (Pai) o imortal Guia Lopes nos
registros de Alfredo Taunay e de Dona Senhorinha Maria Conceição Barbosa Lopes,
foram morar na Fazenda Jardim.
Uma
salva de 21 tiros de bonitos estrondos festivos e muito ecoantes foi disparado.
Por volta das 9 horas,
chegou o padre Paulo na sua própria condução, uma camioneta, transportando
ainda de Nioaque o nosso o Dr. Chavasco e outras autoridades de prestígio
daquela cidade, onde o povo, infelizmente, também não acreditava na história de
um patrimônio, por achá-la sem pé e sem cabeça o qual inventada de uma hora
para outra, e, por simples sargentos. Sargento Luiz Fioravante, Sargento Odilon
de Queiróz, Sargento José Antonio Bulhões. Além disso, não o olhava com bons
olhos.
O
único oficial que se encontrava no acampamento, era Ten. Afonso Meneses Dipp.
Já
havíamos pedido antecipadamente a ele, para que a 1a Cia. formasse
em tomando parte às festividades, de maneira que o Pavilhão Nacional fosse
hasteado solenemente para as honras cabíveis à fundação de Guia Lopes.
Na
frente da igreja e escola, estava preparado o mastro de bonito taquaruçu com
respectivo cordel, pronto para receber a Bandeira.
Guia
Lopes da Laguna. Á esquerda a primeira igreja de São José e a direita a
primeira Escola, denominada Visconde de Taunay inauguradas no dia 19 de março
de 1938.
Às
10h30min, a grupamento da 1a Companhia de Sapadores, do Batalhão de
Engenharia de Aquidauana, 6º BEC. estava em forma no acampamento numa linha
bonita e correta. Às 11 horas em ponto o Ten. Dipp, comandando-a, deu ordem ao
corneteiro Sd. Abílio Corrêa, a dar o toque de sentido. Incontinenti, a sagrada
Bandeira foi hasteada sobre o toque de marcha batida num enérgico e vivo rufar
de tambores.
Em
continuação à cerimônia, cantou-se o Hino Nacional. Ao seu término o Ten. Dipp
com voz altiva e forte, deu vivas ao Patrimônio Guia Lopes e ao Brasil, foi
acompanhado por todos os presentes num arrojo impressionante de perfeito
patriotismo.
A
missa teve seu início logo em seguida. Carinhosamente e muito confiante às suas
preces, o padre Paulo Butler procedeu a bênção e o batismo da cidade nascente. Desta
forma tão solene e de toda a fé, foi celebrada a primeira missa em Guia Lopes
da Laguna.
Ao
meio dia foi servido um suculento churrasco como almoço para todos os presentes.
Às
16 horas houve procissão, o qual padre Paulo opinou que se fosse até à ponte do
rio Miranda. Era bonito ver-se a estrada de grande multidão que acorreu à
festa, num cortejo de fé pelas cousas sagradas.
Às
18 horas, ao término da procissão, o singelo andor com a imagem de São José, o
que recebia a incumbência de Padroeiros ou Padrinho espiritual do novo povoado,
recolhia-se à sua capela – aquela igrejinha de
taipa.
Às
20 horas houve novena.
O
padre fez muita confissão até alta noite.
Como
tinha feito bastante lanternas de papel de cores para adaptação de velas, o
respectivo pátio da igreja e escola ficou iluminado à noite durante as
festividades.
Embora
não houve o baile festivo oficial, pois não havia recursos para tal fim. Entretanto,
pelas vizinhanças, na casa do sr. Fábio Martins Barbosa, na do Sr. José
Francisco Lopes e de outras mais, não
deixou de haver o “arrasta-pé”.
No
domingo dia 20 de março os festejos continuaram pela redondeza. O Padre Paulo
continuou com os serviços sacerdotal atendendo a população celebrando missa,
casamentos e batizados. Entre os dias 19 e 20, fez perto de 45 batizados.
Pe.
Paulo, tornou-se grande amigo de Queiroz, onde passou a fazer refeições nas
suas idas ao Patrimônio Guia Lopes da Laguna, fez todo o empenho para conseguir do Pe. Superior
Francisco Mohr, a vinda de um sacerdote todo primeiro Domingo de cada mês, para
celebrar missa e proceder outros deveres religiosos, e que gostaria de ser o
indicado.
Dias
depois, Queiroz recebe uma carta sua, dizendo com grande satisfação que havia
conseguido a ida de um padre ao Povoado de Guia Lopes da Laguna, no primeiro
domingo de cada mês, e que estava muito contente por ter sido escalado. Desta
forma, o Pe. Paulo só deixou de vir ao Patrimônio, por lhe aparecer a doença
grave, pulmonar. Ele era de origem norte-americana.
Outro
padre o substituiu. Foi o Pe. Jaime Hegles. Religiosos, da Congregação dos Redentoristas
norte-americanos.
Vista
da população presente na solenidade civil, militar e religiosa de fundação do Patrimônio
de Guia Lopes, em 19 e março de 1939
O caderno ou
livro-de-ouro
Havia-se
comprado um pequeno livro considerado “caderno-de-ouro”, para se angariar
donativos a fim de poder-se pagar as despesas efetuadas com o patrimônio, pelo
que, foi criada uma comissão para proceder a devida coleta por ocasião dos
festejos.
No
final, o Pe. Paulo, devolveu o tal “caderno-de-ouro” completamente em branco,
sem nenhuma assinatura.
Em
vista da negativa, no dia 20 de março, o Sargento Odilon toma uma atitude: levanta
cedo, veste seu uniforme de gala, cinza, feito em Curitiba, tal um grande
comandante, adentra ao pátio do acampamento, aprumado, firme, peito saliente
com a elegância natural de um general de verdade a dar cartas.
“Com
o livro, o tal “caderno-de-ouro” debaixo do braço, não tive dúvida de assaltar
o povo. O primeiro que ataquei, fui eu mesmo, de vez que, a primeira assinatura
foi a minha com 100$000 réis, (¼ do meu soldo, posso dizer, porque era 420$000,
como 2o sgt.) a Segunda assinatura, foi do meu colega Luiz
Fioravante, também com 100$000 réis. A 3a assinatura foi do meu
colega José Antônio de Bulhões, com 50$000 réis. O Tenente Darcílio Leal de
Menezes que estava comandando interinamente a 1a Cia. foi a quarta
assinatura, com a quantia de 100$000 réis. Em seguida, Ten. Dipp prontamente
também dera 100$000 réis, sendo a quinta assinatura no respectivo livro. Depois
seguiram outras assinaturas, como: a do Macário Aristimunha, Basílio Barbosa,
Osvaldo Monteiro, cada, com a quantia de 100$000 réis; Jaime Artigas, Nenê
Barbosa, com 50$000 réis cada; Fábio Martins Barbosa também com 100$000 réis;
Chavasco com 50$000 réis, e o restante de todas as assinaturas, foram desta
quantia para menos”.
Para
se ter uma ideia de valores correspondentes, a quantia de 100$000 réis (Cem mil
réis) era o preço de uma vaca gorda e bem grande nessa época.
Com
a arrecadação que fizeram dos donativos, Queiroz, Fioravantes e Bulhões, os três membros
responsáveis por tudo, foi possível efetuar o pagamento aos obreiros que
fizeram as modestas construções: igreja e a escola outros trabalhos, bem como todas
as despesas de compra de materiais.
No
final da tarde do dia 20 de março de 1938, mediante recibos, onde constava as assinaturas
para efeito legais foi a prestação de contas. O dinheiro arrecadado deu para
pagar as dívidas.
Colocando em funcionamento a Primeira
Escola, Visconde de Taunay.
No
dia 21 de março de 1938, iniciou as matriculas na Escola “Visconde de Taunay”.
Ao
todo 45 alunos de ambos os sexos foram listado para uma sala de aula
multisseriada, primeiro ao quarto ano. Entre outros, as minhas filhas do
Sargento Queiroz, Terezinha de Queiroz e
Adalgisa de Queiroz de 8 e 6 anos respectivamente.
A situação da Escola
O
prédio era um galpão-de-palha muito mal feito e muito mal coberto, que apenas
uma neblina chegava para molhar tudo lá dentro.
As
paredes, portas e janelas tudo de taquaruçu rachado, batido de qualquer jeito e
que tomaram formas tortuosas com o brusco ressecamento, acabaram de ser as
vestimentas de sua pobreza. E como gostavam de trincar com o vento de úmido
inverno! Impulsionado por ele, chegavam a balançar-se num vaivém, produzindo
sons tristes e agourentes pelas gretas dos taguaruçus rachados de conformidade
com a pressão do ar.
O
primeiro professor que se conseguiu, foi o Sr. Paulo Nogueira, que dentro do
seu conhecimento, fez o que pôde com zelo e carinho na alfabetização daquelas
crianças até março de 1939.
No próximo Texto,
1.
A Comissão de Fundação Entre outros, Sargento
Queiros, Bulhões, Fioravante e a transferência do novo povoado para a administração
das autoridades de Nioac;
2.
O
Nascimento do primeiro Guialopense, filho do Sargento Bulhões.
3.
Um
Pouco mais sobre a Escola Visconde de Taunay.
Continua...
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